quarta-feira, 14 de abril de 2010

MAIS E MENOS






MAIS E MENOS

Tô sempre escrevendo cartas que nunca vou mandar, pra "amores secretos", revistas semanais e deputados federais. Às vezes nunca sei se "as vezes" leva crase. Às vezes nunca sei em que ponto acaba a frase. Você sempre soube, eu não sabia, toda frase acaba num riso de auto-ironia. Você sempre soube, eu não sabia, toda tarde acaba com melancolia. E, se eu escrevesse "sem" com "s", ou escrevesse "cem" com "c"? Por acaso faria alguma diferença? Que diferença faria? O que você faria no meu lugar, se tivesse pra onde ir e não tivesse que esperar? O que você faria se estivesse no meu lugar, se tivesse que fugir e não pudesse escapar? Você sempre soube que eu não conseguiria, quando a frase acaba tarde, tudo fica pra outro dia. Às vezes não entendo minha própria letra
minha própria caneta me trai, às vezes não entendo o que você quer dizer quando fica calada. Você sempre soube, eu não sabia, quando a frase acaba o mundo silencia. Às vezes não entendo onde você quer chegar quando fica parada. É como ficar esperando cartas que nunca vão chegar, não vão "xegar" com "x" nem vão "chegar" com "ch". É como ficar esperando horas que custam a passar, enquanto ficamos parados, andando pra lá e pra cá. É como ficar desesperado de tanto esperar, olhando pela janela até onde a vista alcançar É como ficar relendo velhas cartas até a vista cansar...


Jéssica Soares

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